Resumo
A investigação que agora se apresenta como tese de doutoramento partiu de uma hipótese que pretende questionar as leituras canónicas da arquitectura portuguesa como prática essencialmente empírica e intuitiva. Essa hipótese sugere que a maturidade patente em algumas obras chave da segunda metade do século XX não é independente de uma estruturação teórica que conheceu um desenvolvimento ímpar nos anos 1960, e que permite falar sem complexos de uma “sintonia” com o debate internacional. Fundamental para a intuição inicial de onde partiu esta hipótese foi um número da revista espanhola Hogar y Arquitectura (nº 67, 1968) que apresenta a geração de arquitectos portugueses nascida entre 1920 e 1940. Os artigos críticos que enquadram as obras, assinados por Nuno Portas (n.1934) e Pedro Vieira de Almeida (1933-2011), revelam, nas suas diferentes propostas metodológicas, uma nova postura em relação à crítica de arquitectura. Em ambos é ultrapassado o carácter descritivo e acessório do “texto de acompanhamento”, para dar lugar a uma construção intelectual dotada de uma certa autonomia ou operacionalidade. A partir da obra escrita, projectada e construída destes dois arquitectos, delimitada a um período de formação e de início de actividade profissional, procuram-se estabelecer os fios condutores de um discurso eminentemente teórico que se vai revelando em teses, em edifícios de habitação colectiva ou casas unifamiliares, em investigação aplicada, em textos críticos / historiográficos, em planos urbanos, etc., e cujo desenvolvimento paralelo suscita contaminações diversas. As relações entre teoria e prática foram revelando uma dialéctica complexa que se quis respeitar neste trabalho: não se pretende ler o projecto como reflexo directo de um corpo teórico, nem este como legitimação daquele; cada um possui lógica e coerência próprias, embora sejam interdependentes. De acordo com a actividade polifacetada dos autores em estudo, a investigação adoptou uma metodologia dividida entre a investigação de arquivo, a análise de projecto, a indagação teórica e a contextualização histórica. Sem se resumir a nenhuma delas, a tese reflecte todas estas vertentes da investigação. Com uma organização mais temática do que cronológica, o corpo da tese está dividido em quatro partes principais, que têm como tema transversal a reflexão sobre o espaço, na sua experiência directa e quotidiana, humana e social. As quatro partes incidem nas bases teóricas expostas nas teses académicas e a paralela formação de atelier; na investigação sobre o programa arquitectónico, com ênfase no plurifamiliar e no equipamento religioso; na fundação de uma nova crítica e historiografia da arquitectura; e na reflexão sobre a cidade, nos seus aspectos processuais e morfológicos.
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