Denominação atual: Fábrica de briquetes e plano inclinado de extracção da Mina do Espadanal
Autoria: Alexandre Vasconcelos Matias Eduardo Carvalhal Helmuth Kuhn Luís Abreu Falcão Mena
Datas 1951 (projecto), 1952 (construção) 1955 (construção)
Colaboradores e detalhes de autoria:
Memória
A Mina de lignite do Espadanal (Rio Maior), registada em 1916 e concessionada à Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada (EICEL), foi chamada pelo Governo de Salazar a cumprir uma função de reserva de combustível nacional durante a Segunda Guerra Mundial, em resposta à escassez de combustíveis para abastecimento das indústrias da região de Lisboa.
No pós-guerra, o Governo e a empresa concessionária investiram na manutenção de uma lavra mineira activa e preparada para responder à eventualidade de um novo conflito internacional. Em 1951 foi tomada a opção pela edificação de uma unidade de secagem de lignite e produção de briquetes, projectada para melhorar a aceitação dos carvões de Rio Maior no mercado de combustíveis. O projecto da fábrica, elaborado por técnicos da EICEL, da Direcção Geral de Combustiveis e da empresa alemã Buckau R. Wolf, foi apresentado no dia 25 de Novembro de 1951 em visita do Ministro da Economia à Mina do Espadanal. A obra, financiada em 30.000.000$00 pelo Fundo de Fomento Nacional, foi adjudicada em 1952 à firma Sociedade Sanfer Lda., de Lisboa.
A laboração da fábrica teve início em Junho de 1955, constituindo uma aposta singular na inovação tecnológica no panorama da extracção de carvões em território português. O sistema produtivo organizava-se em três planos fundamentais: extracção, processamento e transporte do minério. A EICEL procedeu à renovação do plano inclinado de extracção e receita interior da mina, com uma extensão total de 500 metros, incluíndo duas secções entivadas com abóbadas de betão e tijolo refractário e ligadas à receita exterior por duas vias-férreas (sistema Decauville).
À boca do plano inclinado de extracção edificou-se uma nova secção de trituração, articulada através de telas transportadoras com as novas secções de ensilagem e pulverização. Desta última distribuia-se o minério para dois circuitos integrados de produção de electricidade e secagem. A central termoeléctrica, composta por duas caldeiras, turbinas a vapor e alternadores (2x400kw/h) produzia a energia necessária ao funcionamento de todo o complexo mineiro e o vapor necessário aos equipamentos de secagem da lignite.
Na secção de secagem destacava-se, como peça fundamental, um secador rotativo de 90 toneladas, do qual a lignite, seca e escolhida por um crivo, era exportada para silo seco (arrefecimento) e para a secção de briquetagem, onde uma prensa com roda de balanço de 12 toneladas produzia os briquetes por auto-aglomeração. A lignite seca e os briquetes eram depois expedidos para a secção de armazenagem e transporte no cais da via-férrea Rio Maior – Vale de Santarém.
Implantado à boca da mina, em elevação sobranceira ao cais da via-férrea, o conjunto edificado afirmou-se enquanto importante peça de arquitectura do Movimento Moderno no contexto regional. Símbolo de uma desejada modernidade industrial, a fábrica de briquetes da Mina do Espadanal materializou-se numa incontornável presença urbana, explorando a monumentalidade num jogo volumétrico depurado, num cuidado desenho de alçados e através do uso expressivo do betão enquanto material estrutural, com particular significado na imponente chaminé da central termoeléctrica.
A lavra intensiva das lignites do Espadanal desencadeou, entre 1942 e 1969, uma profunda transformação económica e social do concelho de Rio Maior – período fundamental da história contemporânea local, do qual a antiga fábrica de briquetes permanence como derradeiro e monumental testemunho.
Nuno Rocha, 2014.
Uso original: Indústria
Reportagem fotográfica:
Categoria: Nivel B
Registro: A arquitectura da indústria